sexta-feira, 3 de outubro de 2008

TV PIRATINI CANAL 5 REDE TUPI O paraibano Assis Chateaubriand criou e dirigiu a maior cadeia de imprensa do país




























REVISTA


O


CRUZEIRO




Murilo Melo Filho *

Quando Chatô tinha quatro anos, a família descobriu nele uma perigosa gagueira. Naquela idade, ele simplesmente ainda não aprendera a falar e quando conseguia fazê-lo era aos sopetões, intermitentes e hesitantes, gagos, enfim.
Essa doença fê-lo ainda mais esquivo e solitário, inimigo dos jogos infantis e das brincadeiras de rua. Preocupado, o pai mudou-se para o Recife, em busca de melhor saúde para o filho. Foi aí que aconteceu quase um milagre: um tio recomendou-lhe falar sozinho, à beira-mar, nas areias da praia, gritando para as ondas, como se estivesse em conversa com um interlocutor.
Quando Carlos Gomes transitou pelo Recife, a bordo do “Itanagé”, o pai decidiu que Chatô seria o orador da recepção. Treinaram vários dias, o suficiente para que o jovem orador decorasse o texto e o recitasse, inteirinho, para o grande compositor.
Foi uma festa na família e Chatô vangloriava-se: “Matei a gagueira!”
A verdade é que não a matara ainda completamente, permanecendo inteiramente gago e “oficialmente” analfabeto até os 12 anos de idade, porque até então não pudera cursar nenhuma escola. Só um ano depois, inscreveu-se num concurso para o Ginásio Pernambucano e foi aprovado, deixando assim o analfabetismo.
Em 1910, com 18 anos, já trabalhava como repórter no Jornal Pequeno, cobrindo a Campanha Civilista de Rui Barbosa e tomando partido a favor de José Veríssimo numa polêmica com Sílvio Romero, que eram os “papas” da crítica literária de então.
Logo em seguida, em 1912, quando tinha 20 anos, formou-se pela Escola de Direito do Recife e foi aprovado num concurso para a Cadeira de Direito Romano e Filosofia do Direito, derrotando Joaquim Pimenta, um socialista histórico e um forte concorrente, que contestava a sua vitória.
É convidado aí pelo Conde Pereira Carneiro para dirigir o Jornal do Brasil, onde não demora muito tempo, porque o seu sonho era bem mais alto: o de não trabalhar sob a chefia de ninguém. Em 1923, tinha 31 anos de idade e já conseguia comprar O Jornal, que logo em seguida seria o pioneiro e o líder da “Cadeia Associada”.
O Jornal foi um sucesso retumbante, de venda avulsa e de anúncios.
Mas ele não lhe bastava: era necessário dispor de um órgão com circulação nacional. Existia aí uma pequena revista, sem maiores pretensões, Cruzeiro, que Chatô compra com ajuda de um banqueiro gaúcho. Lançou-a com retumbância no dia 10 de novembro de 1928, há 75 anos, portanto, que justamente agora se completam.
Era a primeira vez que acontecia um lançamento tão espalhafatoso, simultâneo em várias capitais brasileiras, no mesmo dia: a capa já em cores, fotos ampliadas e textos de técnica revolucionária para os padrões então existentes.
A revista logo de saída cobre a Revolução de 30, na qual Chatô apóia Getúlio, ao lado de Juarez, Góes Monteiro, José Américo, João Neves e João Pessoa. Mas, já na Revolução de 32, Chatô se volta contra Getúlio, reivindicando uma Constituição para o País, com o apoio de Luzardo, Bernardes, Raul Pilla e Borges de Medeiros.
Após a derrota dos paulistas, é preso e deportado para o Japão, mas o navio que o conduzia volta do meio da baía e deposita no cais aquela carga incômoda, que protestava aos berros contra a extradição.
Enquanto isto, os “Diários Associados” iam se expandindo sempre, com a aquisição de 37 jornais diários em várias capitais brasileiras, desde O Jornal do Comercio em Manaus e A Província do Pará em Belém, passando pelo Diário de Natal, O Norte, em João Pessoa e O Diário de Pernambuco no Recife até o Correio Braziliense em Brasília e o Alto Madeira, em Roraima.
Quase ao mesmo tempo, foi anexando 35 emissoras de rádio espalhadas por todo o País, desde a Baré em Manaus e a Marajoara em Belém, até a Poti em Natal, a Borborema em Campina Grande, até a Planalto em Brasília e a Farroupilha em Porto Alegre, passando pela Tupy e pela Tamoio no Rio e pela Tupy e pela Difusora em São Paulo.
Completou o seu império com uma Editora de Livros, uma agência Meridional de notícias, além de doze outras revistas, dez fazendas agropecuárias espalhadas em vários Estados, um castelo na Normandia, uma fábrica de chocolate, a Lacta, o Licor de Cacau Xavier e seis laboratórios de indústria química e farmacêutica, liderados pela Schering.
No dia 24 de fevereiro de 1949, estourou no ar a imagem da sua televisão, a PRF-3, Tupy de São Paulo, a primeira estação de TV na América Latina, a quarta em todo o mundo e, também, a precursora da Rede Associada de Televisão, com repetidoras e afiliadas que chegaram a cobrir 95 % do território nacional.
Quase simultaneamente, elege-se senador pela Paraíba e pelo Maranhão, torna-se “imortal” da Academia Brasileira de Letras, é nomeado por Juscelino para a Embaixada do Brasil em Londres, lança campanhas de âmbitos nacional e social: em favor da criança, da aviação civil, dos cafés finos, do trigo, das fazendas-modelo, dos bem-te-vis, colibris e beija-flores. E funda o Museu de Arte Moderna de São Paulo, com duas telas doadas por ele mesmo, e que é hoje uma das maiores e mais valiosas coleções de arte moderna no mundo inteiro, numa pinacoteca de mais de 5 mil peças – avaliadas em US$ 800 milhões, com obras de Manet, Picasso, Matisse, Renoir, Toulouse Lautrec, Cézane, Goya, Velasquez, Degas, Dali, Modigliani, Gauguin, Rembrandt, Van Gogh, Utrijo e Chagall.
Enquanto isto, O Cruzeiro divulgava toda essa obra e crescia em tiragem, chegando a vender 700 mil exemplares por semana, graças a uma excelente equipe de jornalistas e repórteres: Acioly Neto, José Amádio, Helio e Millôr Fernandes, David Nasser, Jean Manzon, Franklin de Oliveira, Edmar Morel, Indalécio Wanderley, João Martins, Luciano Carneiro, José Medeiros, Jorge Ferreira, Mário de Moraes, Eugênio Silva, Luiz Carlos Barreto e os futuros Acadêmicos Carlos Castelo Branco, José Cândido de Carvalho, Herberto Salles, Lêdo Ivo e Rachel de Queiroz.
O “Pif-Paf”, de Vão Gôgo e o “Amigo da Onça”, de Péricles eram seções famosas, ao lado de reportagens históricas, como a sobre os xavantes na Amazônia, a expedição do coronel Percy Fawcett, a égua do Jockey Club, que bebia cinco litros de leite por dia, a morte de Aída Cúri, o crime do Sacopã, Barreto Pinto de cuecas, Miss Brasil e Miss Universo, a derrubada de Perón, o suicídio de Vargas, a renúncia de Jânio e os grã-finos de São Paulo, sendo que esta última levou Chatô a convidar Joel Silveira para seu quadro de repórteres, chamando-o de “víbora”.
Quando começou a Segunda Grande Guerra, ele não escondia sua simpatia pela Alemanha, que visitara e sobre a qual escrevera um livro. Mas assim que começaram os primeiros torpedeamentos de navios brasileiros por submarinos do Eixo, foi um dos líderes da campanha pelo rompimento das relações entre o Brasil e a Alemanha, apoiando o envio da Força Expedicionária Brasileira à Itália.
Certo dia, chamou Joel Silveira ao seu gabinete e o intimou:– “Sêo” Joel, estou precisando que o senhor me vá à Itália, fazer a cobertura desta FEB na Itália. Mas, por favor, não me morra. Porque repórter foi feito para mandar notícias. E não para morrer.
Na manhã do dia 16 de fevereiro de 1960, Chatô dava entrada na Casa de Saúde Doutor Eiras, com fortes dores no peito e sintomas de um enfarto. Diagnosticaram-lhe uma trombose, que atingiu os dois lados do cérebro, com ela convivendo 8 anos, um mês e 18 dias, de um dolorido sofrimento. Terminou morrendo no dia 5 de abril de 1968, ao fim de 76 anos de uma vida intensa e tumultuada.
Foi o tipo do homem diante do qual ninguém podia ser neutro ou indiferente. Ou era odiado ou endeusado. Tudo nele era grande: as qualidades e os defeitos.
Deixou uma inesquecível lição de trabalho construtivo e de luta permanente, sobretudo nos anos da doença. Não raro, parecendo um personagem ulissiano de Joyce, possuía o condão de, num passe de mágica, transformar suas fantasias em magníficas realidades. Tornava exeqüível o que para muitos parecia utópico. Era um arquétipo perfeito do contraditório, vivo e diário, prático e romântico, segundo Gide, entre o objetivo e o sonhador, telúrico, com os pés no chão.
Quando, algum dia, se escrever a história do Brasil no Século XX e a história da formação da opinião pública brasileira, ninguém poderá esquecer o papel de Chateaubriand, o homem que mais instrumentos criou para difundir opiniões e notícias.
Foi um dos líderes mais poderosos do seu tempo – uma força da Natureza, “senhor do raio e do trovão” – que deteve uma massa enorme de poderes jornalísticos, políticos e financeiros, mas que sabia ser humilde quando necessário, um clone de William Randolph Hearst, o “Cidadão Kane”, de Orson Welles.
Conhecia o Brasil na palma da mão. Poucos brasileiros, como ele, haviam até então visitado todas as mais longínquas paragens deste País.
Era um sertanejo plural e multifacetado, um ser múltiplo, vário e variável, um bípede faiscante, um andarilho incansável, que não conhecia o sono nem as distâncias, sempre com pressa, como se fosse um proustiano em busca do tempo perdido e reencontrado.
Certa noite, a dez mil pés de altitude, no trajeto do vôo de um velho e ronceiro “Constellation” da Panair, entre Roma e o Recife, confidenciou-me num certo ar de desprezo:- Murilo, com essas freqüentes viagens sobre o Atlântico e os seus diferentes fusos horários, já perdi até a noção das horas de dormir. De noite, em casa, fico de olho aberto. De dia, e em público, estou dormindo muito. E o pior, dizem que ronco bastante.
Foi um implacável inimigo do relógio, sendo o rei do atraso sem hora certa para nada. Afirmava: - Hora acertada para mim basta a de morrer, quando não poderei adiá-la um só minuto.
No balanço final de sua pessoa e de sua trajetória – como este que despretensiosamente aqui tentamos fazer – o resultado dos acertos é muito superior ao dos erros.
Do seu exemplo de coragem, de grandeza e de perdão – mesmo diante aqueles que não o perdoavam – sentimos hoje, e sentiremos sempre, muita falta e saudades imensas.
* Murilo Melo Filho, 75 anos (completados no dia 13 de outubro de 2003), jornalista, membro da Academia Brasileira de Letras, trabalhou nos Diários Associados, na revista Manchete, reportou a construção de Brasília e foi o primeiro jornalista brasileiro a cobrir as guerras do Vietnã (1967) e do Camboja (1973)।Escreveu este texto para a edição comemorativa on line dos 75 anos da revista O Cruzeiro.












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MEMORIA






VIVA

GLORINHA , UMA FAMOSA LOCUTORA DA REDE TUPI DE TELEVISÃO














REVISTA



O



CRUZEIRO



de



26



de



setembro



1959




Glorinha dispensa propaganda
Reportagem de BADARÓ BRAGA

Começa por ter um nome bonito, de heroína de romance: Maria da Glória. Para os íntimos, essa Maria da Glória fica mais doce. É apenas Glorinha. A Glorinha de casa, para uso doméstico. Mas fora disso, é mesmo Maria da Glória, já agora em cartaz nacional de TV, onde vem brilhando como locutora. Um dia a simplicidade marcou encontro com Maria da Glória. E nunca mais a deixou. A môça é daquelas que não turvam a água para dar a impressão de que ela é profunda. Deus a fêz assim e assim vai vivendo. Vivendo e ensinando. Porque Maria da Glória, depois de conquistar (em caráter definitivo) um lugar de locutora na TV Tupi, parte agora para novas vitórias. Sim, senhores, a nossa Maria da Glória é professôra com letra grande. Montou uma escolinha no 12° andar do edifício Acaiaca, na doce paisagem mineira de Belo Horizonte. Ou melhor, no estúdio da TV Itacolomi.
Assim sendo, tôdas as sextas-feiras viaja para as históricas Minas Gerais. Lá prepara as garôtas-propagandas e locutoras também. Maria da Glória deixa sempre o traço de sua inconfundível personalidade em tudo o que faz. É um prazer vê-la em ação, na TV ou na sua cátedra. É, antes de tudo, uma professôra de simpatia. Possui uma porção de qualidades numa só pessoa: bom gôsto, dicção, inflexão, naturalidade e classe para dar e vender. Essas qualidade que Deus lhe deu Glorinha as reparte com as suas alunas. E as reparte muito bem.
Tanto assim que, graças aos seus toques, vão surgindo outras Maria da Glória através do Brasil. A professôra faz muita fé na sua escolinha. Acha que a “produção” dentro de mais alguns anos será das mais brilhantes, pois môça inteligente neste País não há falta.- Há mesmo inflação - afirma ela com o seu perfeito modo de falar.
Todo êsse trabalho, dos mais exaustivos, Maria da Glória o realiza muito bem, apesar dos compromissos inadiáveis com a TV. Por exemplo, anima um programa de duas horas que é mais que um “show”, porque é “Super-Show”. Além disso, faz entrevistas e mantém um belo programa feminino. Dedica também às crianças a sua atenção, através de um programa infantil que tem a boa marca de Maria da Glória. As recordações da infância estão sempre presentes. Daí a ternura que a famosa locutora da TV Tupi dedica ao mundo das crianças. Ela confessa que é com prazer que anima o “show” infantil. Assim é a vida de Maria da Glória. Uma vida cheia de acontecimentos, grandes e miúdos.
Môça que vive com os olhos no ponteiro do seu relógio, mesmo assim lhe sobra tempo, de noite, após seu trabalho de TV, para conversar com os bons autores. Na sua estante mora muita gente famosa: poetas, romancistas, biógrafos. (“E também filósofos”, acrescenta.) Um mundo de inteligência e cultura. Mas o sonho número 1 de Glorinha é mesmo popularizar a sua escolinha. Ela julga isso uma necessidade em face do surpreendente progresso da televisão no Brasil. Já diplomou a sua primeira locutora: Eva Linda. É a sua obra de arte. Trata-se de môça realmente muito interessante. Bonita, sugestiva e que herdou da mestra a irresistível simpatia. Sendo assim, não será difícil Eva Linda triunfar na TV.
“Naturalidade e bom gôsto” - eis a receita que Maria da Glória fornece às garôtas-propaganda। O resto pode ser adquirido, como, por exemplo, a dicção, a inflexão de voz e a própria classe. Mas naturalidade e simpatia nascem com as pessoas. Não podem ser compradas. São qualidades que levam a marca de Deus. Só Êle as dá. Eis, em história curta, Maria da Glória. Um nome bonito servido por uma inteligência brilhante. Um bom retrato sem retoque de môça brasileira. Uma garôta que dispensa propaganda.






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